BURACOS

 

Você é posto no mundo para negar as coisas do mundo.

Pra fugir, se esconder, se segurar.

Se Deus criou essa idiotice essa confusão patética que vai aos trancos e barrancos

Por que ele iria criar uma viveiro para as criaturas passarem mal dentro da gaiola?

Não tem lógica isso.

Seria pra testar o maluco que já sabe que está com o jogo perdido? Que já nasce ferrado?

Se ele é onisciente então ele já sabe que o cara tá fodido, então para que aumentar o derrame, a tortura?

Pra ficar mais forte lá pra frente? Para um futuro no qual ninguém sabe se existe?

Aí, o macaco aprende a falar, e usa aquela palavrinha maquiavélica, sinistra:

“Fé”.

Tem que ter fé...

...E fraco... a primeira coisa que eu vi foi o mar. Depois deitei na areia. Quando olhei pro céu em cima de mim. Vi um buraco preto. Pequeno, mas longe. Fiquei esperando mas não obtive mensagem nenhuma. Será que se a gente não pensasse, se sofrêssemos uma lobotomia, um aramezão enfiado direto no meio da testa atravessando o córtex pré-frontal os fantasmas conversariam com a gente? Será que com um chip dentro da cabeça, igual o RoboCop, um boneco, receberíamos mensagens do além? Receberíamos os espíritos e todos os santos e a memória de nossos pais?

Quem pensa não sou eu. A minha cabeça pensa antes de mim. Aleijado do pescoço pra cima, escolhendo errado, paranoico, fodido. Cientista. Veado. Prescrutador. Medroso. Para que ir ao médico? O psiquiatra é apenas um cara que oferece remédio para gente má viver feliz – tentar dormir, viver tranquila. Quando dei por mim eu estava era de pulsos cortados, deitado na areia da praia, com uma mulatona abrindo a bunda e se preparando para cagar na minha cara.

Quem é você para me julgar, irmão querido? De igual aprisionado entre a liberdade amedrontadora do abismo e o sofrimento corrosivo da incerteza.

Se eu paguei? Claro. Pelo amor rápido, por essa porcariada toda....

que me sufoca e mata.