SAL NAS COSTAS

 





Quando saí da aldeia global

E me mudei para a cidade fantasma

Caminhei junto a sombras peregrinas

Quem não me diziam nada, não falavam,

E descobri então que o que fizemos com a vida em nome do “tudo bacana” acabou por criar espectros exilados em busca de um corpo no qual eu também pudesse encostar.


Começar de novo com o calcanhar ferido de cuidados,

E ainda dizer; “Foi com a melhor das intenções.”

Para que o fuzilado nunca saiba quem o matou.


Por isso também caminhamos vendados

Óperas mudas, falsificadas, fazendo o impossível para mudar o tom do encanto

E olha, se cortarmos um pedaço fino de pele

Que nunca desejemos saber o que sairá de lá.

Não é salvador, e não foi até aqui. 

Nunca será.


Estamos na época onde os pombos não descansam mais sobre as estátuas – estas para eles, humanas demais. Pesadas demais. Confrontados pelas migalhas lançadas de mãos nenhuma – debandam.

Estamos na época onde o vampiro implora pela estaca

E o ladrão não sabe mais o que roubar.

Onde o sol, sugere, não apenas a escuridão dos óculos, mas a marca para os que vão usá-los.


Lançaram no poeta, na mocinha bonita, na criança cantora, sacolas de tomate.

E depois do riso da turba satisfeita

Ninguém mais se lembra – das manobras do sufi.


De muleta a memória espera um táxi

É dia.

E os sapos cruzam um campo de flores altas, cada um com um nome próprio,

Coaxam, repetindo o que é seu. Longe de intuírem, com a mínima desconfiança, que;


O salto entre frigideiras, precipícios e pontes quebradas, fogões e amuletos complicados, até mesmo pequenos paralelepípedos,


Nunca os livrou do mal de Kant.



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