O DUELO
O xerife chegou, guiado por uma estrela de fumaça, vendo algumas casas ainda em chamas, e o cangaceiro esganando um cachorro pelo pescoço, enchendo a boca do bicho de cachaça e depois bebendo igual um cálice. Eita que largava o bicho tonto e igual um álbum dos Beatles que se rodasse de volta levava uma bica. Se olharam. E o cangaceiro disse:
Se for cabra macho dá gosto de matar! É nós, diabo!
Entregue-se à justiça, filho de uma puta!
Quando o cangaceiro ouviu o nome da mãe na boca da lei, deu um pulo, mas um pulo tão alto que o capitão Kirk e o dr. Spock comendo cu de mulher gostosa em um outro planeta até pararam de fabricar o leite que cola. Branco e verde. Nata pura. As fêmeas da zona espacial, de calcinha de couro, gemiam muito e também se aquietaram quando o cangaceiro bateu com os cascos no chão.
Tá nervosinho? – disse o xerife, alisando o cabo da piroca – Pode vir que eu lhe mato!
Eu vou te esfolar todinho e pular corda com tua bexiga, bichão doido! A cabeça eu jogo no rio pra vê se boia! Cheia de merda que tá aí!
Epa! Então venha pelo amor de Deus!
O cangaceiro veio, mas veio à galope, tonto, atirando e andando em zigue-zague igual filme nacional antigo, enquanto o xerife calmíssimo e mostrando o seu dentinho confiante tenta puxar o revólver. Tenta e tenta… Ah?… O sol acanalhando a caatinga estava tão quente que o coldre molhado de suor havia encolhido. A arma não saía. Plaft!
“Emudece o pau do pilão.
Num grão de farinha se vê o
mundo.
Cego da brancura sideral.
É uma flor selvagem –
diante a eternidade de um segundo.
O urubu, o sapo e o cachorrinho.
Um pelo céu
do inferno. Ass Above sou Bilau.
Os
outros pela terra seca e sem lei.
Ganem, coaxam e salivam.
Igual eu e tua mãe – no sonho de um maçom.
Tudo está
consumado.
Eis o abandono ideal.”
A cabeça do xerife rola encostando a língua na sandália suja de terra de seu algoz.
Com muita raiva é que ajuda! – diz o cangaceiro lambendo a peixeira, segurando a colherzinha e a caneca favorita que quase perdeu na correria – Groselha esquentuda… Lava de um vulcão da porra! – ele reflete satisfeito observando o sangue.
O prometido. O cortejo da cidadezinha. No meio do sertão, vão se embrenhando seguindo o cangaceiro, passando cactos, jararacas e espinhos longos. Entrementes, o capitão Kirk e o outro lá, o Spock, achando a cena incrível e bárbara, agitados, voltam a foder as marcianas de Vulcano. Tudo puta mesmo, gemem “ai ai come o meu cuzinho gostoso!”– parecia até que sabiam o que há por trás das ações dos habitantes do planetinha. Insetos e maquinarias. O futuro que nos sobra.
O cangaceiro chega na beira do rio. Segurando a cabeça do xerife. Uma senhorinha reza. O rosto parecendo papel. E fechando a boca aberta da cabeça decepada o cangaceiro sussurra:
Tu vai boiar, desgraçado…
E continua:
Aí, minha gente, vocês vão vê só como essa cabeça é de camarão!
O povão ri. Entre gengivas e o sinal da cruz. O rio corre. Água escura e doce. Corta o barro seco. E ele lança a cabeça do homem da lei. Que morto num piscar de olhos…
Flutua girando com a correnteza suave.
Comentários
Postar um comentário