A GRADE

 




Não consigo. Não consigo, não consigo achar palavras para descrever o ódio que eu sinto pelo meu vizinho. Ele não me fez nada. Mas se tivesse a chance me maltrataria. Só respeitam os violentos. Eu fui adestrado para ser bom. Por isso rezo, faço pactos com forças anteriores ao universo, para que ele fique paralisado da coxa pra cima mas não morra. Que apenas não se mexa, nunca mais. Entrevado. 

A vida da gente é tão artificial, tão cheia de correntes, arestas cortantes, castrações, entupimentos, que esquecemos que o pesadelo que ela é só aparece quando estamos acordados. Por isso eu te digo, irmão querido, rasteje desde o início. Rasteje feito um bicho e ainda embolado na memória das primeiras vísceras e rastejando

mate a sua mãe.


Que te pôs aqui,

Sem cortar uma grade sequer.







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