BARDO PARADO

 


 Nada tem que ser de verdade, você só precisa fingir.

A vida é o pesadelo que a gente sonha acordado.  


Careca, saía cambalhotando por cima dos incensos. Não dava um pio, mas eu escutava a alma presa na garganta: “Na cuca não, pai!” “Ai, dói!” “Não chora, mãe!” Se enrolava nas bandeirinhas. Esbarrava nos sinetes – as memórias de outras vidas. Quero ver cantar arrotando! Diante as divindades. O sangue tem uma cor muito bonita. Parece ki-suco com pouca água. Talvez porque dentro do corpo não haja luz. Tirando eu, quem se move assim no escuro que nem um gato? Que nem um passarinho enrolando num lenço molhado? Ainda mais com esse facão cheio de caco de osso. Velho. Falta de cálcio. Quebra mais fácil. Lama que chupa língua, dá-lhe chuva. Ô Lama, dá-lhe. O tambor toca de 80 a 100 batidas por minuto. Quando o sangue sai pela boca ou pelo nariz, bate mais. No templo irão descobrir. Saiu dessa para a roda da repetição. “Vamos lá, mais uma vez!” Mandar viver de novo é pior do que morrer. E se ficar com medo o fantasma entrará na boceta. Como era santo. Na boceta da mãe, de uma mulher, e não de uma marrequinha. Que pérola mágica. Lascar com cabo e tudo. Sem luva nem nada. Patinando neste sangue – o dos velhos da paz.


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