ANIVERSÁRIO DE 50 ANOS

 




Comemorei o meu aniversário num quartinho

Com uma mulher nua e um veado

Cinquenta anos. De total isolamento.

O fogo virou gelo, o gelo pedra

A pedra que arrebentou os Golias encarnados

Em gargalos de garrafa e apostas

dos “foi quase… quase que dá, quase que dá certo… Quase.”


Eu, a lourona e a bicha.

O apartamento é tão pequeno

Que a fumaça apara o bolo com duas velas

feito um neném nascido às pressas.


A bicha me traz um presente:

“Pra cê!”

Uma garrafa de vodca e uma caixa de charutos.

Exu, mesmo aqui tão longe, como adivinhas?

Bichona, dou-lhe um abraço. 


"Parabéns, hein!"

O cara vai pro banheiro e uma fumaça se junta a outra,

cheirando a laboratório, éter, fio queimado,

breaking bad, morte.


A mulher boazuda, gosto de gordonas, abre o meu presente.

E tremendo tranquiliza a onça escondida em seu batom vermelho.


Bebemos esganiçados, 

tentando acomodar a solidão, a dor, a tremedeira

que nenhum conta pro outro... mas sabe.


Na janela reflete um rosto.

Batem na porta?

Será mais uma surpresa?

Cinquenta anos, a imagem e semelhança.

Abro e o diabo entra. Companheiro de estradas.


A bicha volta do banheiro e quer pôr uma música.


Acendo um charuto e faço alegre umas flexões de braço entre a mesa de ferro e o banquinho do computador.

A gordona pega no muque.

“Hum! mas que fortão!”

"Cinquentinha!"; digo.

A festa tá ficando boa...


“Põe Black Sabbath!”; com a boca cheia de pinga,

dou um gole que sai rasgando.


A bicha dançando

Ao som de nada


Me abraça

Com a gordona

Enquanto partilhamos a garrafa



E diz;



“Põe o quê?”...







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