NEM BICHO NEM RICO

 



Eu queria acreditar. Eu tentei acreditar em qualquer coisa. Manter o bicho vivo. Se manter vivo e na estrada. Eu tentei quando criança. Os meus pais... Logo descobri que eles estavam tão amedrontados quanto eu. Dinheiro. Casa. Trabalho. Aposentadoria. Vida. Depois a igreja. Parecia boca aberta. Me convidando para me salvar. A boca que digere. Me salvar da indigestão. Cristianismo. Não funcionou. Tentei Budismo. Para parar de acreditar e andar por aí. Morto-vivo. Zumbi. Tentei remédios para a cabeça. Drogas. Álcool. Música. Funcionou, como as religiões, por um tempo. Mas a arte me lançava para um corpo. Um sonho. Ou pesadelos que não eram os meus. Quanto mais ruim da cabeça o artista – mais eu queria. Descobri. Copiar o que se acredita não adianta. Depois parei de acreditar. Parei de copiar. Tentei gurus. Meditação. Vedanta. Física quântica. Extra terrestres. E o truque me parecia o mesmo. Hoje não acredito em mais nada. Ou acredito no que invento sabendo também que irá passar. Amor. Sexo. Pornografia. Açúcar no céu. Pálido de dezembro chumbo. Sombrio. Também dissolviam. Descobri. Não é preciso. Apenas para se manter vivo. Manter o bicho vigilante. Casa e comida. Um cuidado ou outro com os que estão mais perto. Então me distraio. Sozinho como numa ilha. Sabendo que no fundo não há saída para nada. Viver aos lados das minhocas. Boquinhas minúsculas. Que preparam a minha cova. Não acredito na vida. Apenas na morte. Porque eu sei que é dela que se corre – mas não dá. P /evitar. Como um chiclete. Durmo e acordo. E confuso não sei nem tento prever o que me aguarda. O engano é meu deus. O guardanapo, o que beijo, a minha sopa de tomate, os lábios. Vivo o sonhos dos outros. E digo que são meus. Ontem foi gol da Espanha. O meu coração ainda bate e não precisa de mim. Nem das palavras nem das coisas. Se eu fosse preso. Imaginaria. Este hotel tem ordem. Este hotel me mostra o espaço e o lugar. Nos cuidam. Engaiolados estamos todos. O círculo riscado e a órbita astronômica – os mesmos. Q/ oprimem. Então fecho os olhos tentando manter a ereção. E se penso na vida. Nada sobe. Nada. Quem disse que é preciso largar tudo por um passeio? Uma viagem distante? Uma aventura? Um Kid-Vinil? Um Hello Kit? – apenas band aid. No fundo é igual cinema. Sentados esperamos o filme acabar. E ainda me lembro do tempo que corria atrás. Hoje fiz o inverso. Ao universo pouco importa se eu acredito ou não. Que eu também existo. Cai aqui na minha mão. Bilhete premiado. Milhão. Entra na minha boca. Cano fino. Bang! E na profusão externa da bala. Cavalgo feito boiadeiro. Bandido. Menino do Rio. Calor e arrepio. De cu apertado – meu alazão. Vem para mim presidente. Vem para caixa. Pros milagres. Concentre-se no presente. Quieto e sombrio. O sol ri – só quando eu rio. E nem consigo transar seus raios. Não basta. Acreditar. É simples. E se pensas muito. Ninguém te chama de coitado. Sabe por quê? Não és bicho. Nem rico.

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