JUNTOS DA MÃE

 




A porteira estava aberta. Eu sentado rodando a medalha // entre os dedos// A.A. Sem uma gota há muitos anos. Dizem; estás sóbrio. Escuto o motor. O cheiro da gasolina. Era o carro dele. Continuo assistindo TV. Não precisava meter o pé na porta. O farol entrando pela sala. Cone de bruxa. Cone de anjo. Esporro de luz. Túnel. Ele de saco cheio // de tristeza. Segura uma garrafa. Uísque. Cabeça coberta de milho. Nem desligou o carro. Essa luz. Esse farol na colina. Para mar nenhum. Nunca nos guiou. Mas eu tento // logo desisto. E ele me pega pela gola. Hoje com estas garras de aço. Ontem eu ensinava por o garfo com comida na boca. Carregava no colo. Chamava até de passarinho // ou soldadinho // ou meu am... Ele me joga no chão e // com o gargalo aberto. Enquanto me grita. Despeja álcool em mim. Tanto tempo. A medalha para um lado. Eu esticado. Com álcool na cara. Igual um palhaço. Não digo nada. Escuto as acusações. Rejuvenescidas. Lembrando que com a mesma garrafa mas outro braço // desta vez eu //sujo de terra// tentava esquecer o que fiz. Ele me larga. “Satisfeito agora, seu demônio?” Não digo nada. Velho. Fodido. Mas tenho casa. Fazenda seca // não esperava o seu coração // ao quadrado da aridez. Secar também. Quando se vira. Agarro o macaco de porcelana. O único que ainda me resta. O que tapa os olhos. E acerto na cabeça. Na nuca e por trás. Que eu protegia quando criança. Amarro na cadeira. Espero acordar. Lavaria o rosto, mas não sei se é certo. Ele homem // eu velho. Todo mundo se encontrando hoje // de novo // é assim que os fantasmas retornam. É só começar a falar.


Abro a janela. A brisa da noite. O motor ligado. E penso olhando o pé de laranja de merda balançando no mesmo vento; enterro ou não enterro, neste segredo que só nós dois sabemos, junto onde a mãe está?

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