OS VULNERÁVEIS

 




Amar os que sofrem é fácil. Quero ver amar o seu igual, os seu vizinho, os que estão na mesma situação que você. Não é que seja fácil ou difícil, eu respondi. Talvez amar os que sofrem (os vulneráveis) seja a única forma de amar. O resto eu quero que morra mesmo, desapareça, se foda, não faz a menor diferença. Não preciso de amor. Mas escolho amar os que precisam parar de sofrer nas labaredas dos encantamentos físicos e naturais. Esse era o grande padre do demônio. O que não aguentava ouvir, principalmente mulher, reclamar. E homem se reclamasse ele não via como gente. Criança, matava. Não se importava com os seres vivos. Nem homem, nem mulher, nem criança. Nem bichos. E muitas vezes perdeu tudo para viver dentro de sua lei. E ficou forte – ofenda a quem ofender a humildade desta palavra: “Força!” E venceu o medo da vida e da morte. E perdeu tudo, inclusive dinheiro. Mas andava erguido. Não de quatro. Como vocês fazem. E sem vergonha na cara dizem amar. Estupre Gandhi – o facínora. Estupre Jesus – o mal entendido. E depois chamem os direitos humanos para tirar o punhal da minha mão quente tesuda e molhada de vermelho boceta. Meus sapatos sangrados lumiando o “sou livre doutor!” Minha vida espedaçada porque crucificou de cabeça pra baixo, hoje, a sua gentileza. Não pedi, pedi? Nunca te roguei por nada. Roguei? Ao humano não. Então... vaze. Toma facada e morra; benfeitores, bandidos, pretos, brancos, amarelos, traidores ou virtuosos, polícia e ladrão, morram homens de bem, morram assassinos e obstetras – menos os médicos que prolongam o sofrimento. Saúde à sua prensa, aos seus vergalhões, agulhas e cautérios. Morram todos menos eu. As únicas cartas que recebo são as propagandas com ofertas de lojas que eu nunca estive ou de óticas para estes  os olhos que veem além de um pouquinho... mas servem. Porque mesmo pouco. Dá pra te enfiar. Obrigado, de nada meu pai. Obrigado, de nada minha mãe. Obrigado, de nada demônio. Hoje durmo. Ontem, no mais do que ontem, não.

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