ASSALTADOS

 



Estava passando. Hyde Park –Cascais, Baile Objeto, perto de Recife. Esta praça perto de Madureira – em Londres, esta mesmo – onde. Cruzei o portão. Pela grade. Jaula das flores. Circulas. E o relógio da igreja. A torre – lá. Esperava o camundongo cair, o pequenino, dizem que passa pelo furo de uma caneta. O quê? O intestino perfurado. Por uma faca. Foi neste estado que o encontrei. Suado. Sanguentado. Paletó e gravata. Sentado no banco da praça. Eu estava com fome. E sem muito dinheiro. Mas poderia comer. Mas economizava. Não sei por que economizava. Quando não se tem mais nada // juntamos. E sentei ao seu lado. Ele estava pálido. A faca enterrada na barriga. Bem no meio. Não arrebentou um botão. O sangue na pocilga. E o cabo se curvando enquanto ele respirava, no cumprimento do judô, se repetia. E logo perto do pé. A carteira. Não sabia se eu pegava a carteira ou retirava a faca da barriga – Me ajude – ele disse. Eu sentado olhava para a carteira e para a faca, para a carteira e para a faca. Sabia que a carteira poderia estar vazia. Sem certezas. E quando não se tem certeza se imagina. Imaginei a barriga cheia. Ele virou de lado. Eu virei pro outro e me levantei. Deixei a faca. Peguei a carteira e enfiei no cu. Não é preciso correr – assim.


    • Volta, volta! – a voz dele cada vez mais fraca.


    Sumia.



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