MULATINHO COM RAIVA
Do curral de onde se tira um deus // se tiram dois. Apesar de outra raça, outra crina, outra baba ruminada. Cascos estridentes – os mesmos. A marca da pata. O viés de quatro credos. Tambor ou nervo ruim. Não precisa estar contente. Relinche a letra mística, a missa semi encriptada, de cabeça baixa – é o suficiente. Feito as eleições. A música. A bundinha que se vê. Quando arrombas e lanha. Um sonho de mulher. Viagra. Pus a máscara de meia. E saí contente para matar. “This is the Zodiac speaking” Paraíba. Com um dinheirinho. Família média. Um pouco acima da média. Inspirado em coisa fina. Entre o aqui e o lá lá lá. Tudo vindo dos meios comunicativos. As minhas vozes. O meu discurso. O meu espírito. Tudo emprestado. Originalidade zero. Mas quando passo a faca na garganta da moça. A fumaça sanguinolenta me deixa excitado. Ancorado na matéria. Não na balela eclesiástica do que é real. Real é a vida ou a falta. O que se pode ou não encostar. Sentir muda muito, não confio, pensar muda o tempo todo, também não. Mas a morte vem para ficar e eu sou o seu fiel escudeiro. Invejoso de não poder ser ela mesma com capa e tudo – vestido de negra. Como a matéria. Que nunca se liquida por completo. De qual curral tiraram Deus? Sigo a moça. Antes que me veja baixo a máscara. Respiro na meia. Cheiro a palavra NÃO. Mas a ignoro como o SEMPRE. E quando a empurro para o beco escuro. Digo com voz de monstro. Barítono veado. Do filme na TV. Ou do cursinho de inglês; “This is the Zodiac speaking” – O quê? – ela pergunta. Abro o curral de lágrimas. Como seu deus saísse de uma cachoeira. Eu abafo com a mão fechando a garganta. Ela ainda consegue me arranhar a cara. Rasgar a meia. E antes de morrer vê quem eu realmente sou. Um mulatinho. Com raiva.
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