SÓ PRECISO DE GRANA

 




Meu pai entrou falando baixo. Soldado raso. Segurando o cabo. Dizendo que a minha mãe estava no quintal. Para eu ir lá fazer alguma coisa. Logo no meio do Led Zeppelin 4. Ele larga a enxada. Vai perder a graça. No fone, dance deis, no quartinho de empregada. Luxúria da casa que nunca foi minha. Vou lá fazer o quê meu pai? – eu perguntei. Cabelinho até o ombro assim. Bem fon-fom. Larguei a tua mãe lá no quintal – ele me disse – vai lá porra! Pausei o computador, acho que já velho, rodava ruim, o ventiladorzinho. Não sou meio gordo. Corri. No maior Exu Caveira, aquele adesivo raro na guitarra do Jimmy Page. No quintal encontrei o que restava da velha. O corpo prum lado. Sapateando no sangue. Sem a cabeça. Essa perto de uma mangueira. Um passarinho meio doente picava o outro e não acertava. O vizinho estourando no pancadão. Alto-falante: coração. A bandeira verde, na janela, desbotando no sol, mais encardida, mais amarela. Porra, essas coisas não acontecem na Inglaterra. Tudo de feio só acontece aqui. Comigo.


A polícia chega e prende meu pai.

A minha mãe (de avental e sem cabeça) sai na rede.

O passarinho ficou cego. Mas voa.

O vizinho continua no funk.

E eu? Como eu vou para a Califórnia?

Huru spiringue? Iés dudu.


Acho que dá. Só preciso de grana.

Comentários

Postagens mais visitadas