O SOM DAS TRIPAS
Na sessão espírita de mesa em alva luz!
Bilhete de um filho da casa, retirado da caixa de perguntas:
Hoje eu me apaixonei pela filha dos canibais. Gostaria de ajudá-la. Mas eu não dirijo. Será que ela anda de táxi? Táxi é caro. Mas e se a gente economizar na comida, dá com certeza.
Sendo a menina uma canibal, não sei se passar fome é seguro. Ah, mas… não digo fome, fome!, e sim pular uma refeição para poder passear. Vai dar certo?
Resposta da entidade extrafísica, usando o transporte do médium Leopoldo:
Querido Linguinha….
Posso chamar o irmão de Linguinha?
— Claro.
… Já deu certo. O amor vence tudo. O amor e o vento soprando das costas para o litoral.
A fêmea gosta de mostrar a bunda. E o macho gosta de mostrar o quê? Alguma forma de poder, real ou imaginário, para tentar conquistá-la. Ambos são vítimas dos artifícios, conscientes ou inconscientes, naturais às atrações, e se perdem neste rito, permeando o animalesco, o solavanco dos pavões e o fantasmagórico inventivo — dos possessos. “O cada um na sua” é uma falácia. Somos irmãos na dúvida e na estranheza abjeta diante do que possa ser favorável agora. Esta é a batalha judicial entre o corpo e o espírito, onde ninguém nunca vencerá. Moedas para os punheteiros: a única justiça darwiniana, morrer como quem adormece — a única escada para o paraíso. Ou seria acordar tarado por alguns segundos no plano espiritual, descobrindo que, sem sexo, o corpo não importa mais? Quem não come é comida? Perecerás? Voe, querido fantasma, voe e cure a mente e o corpo dos macacos enfermos, aprisionados nestes monstruosos zoológicos, cada qual em sua jaula, estendendo as patas adornadas com pulseiras e relógios caros, tentando colher as rosas e evitando os espinhos inexoráveis desta existência. Tudo isso sob o pairar imbecil e triste de um príncipe cego em busca de um amor astral e impossível. Punheteiros e siririqueiras, por tanto, pelo amor de tudo que é sagrado, recorram ao banho gelado e de cachaça — do pescoço para baixo. E afugentem-se da dor, transitória, meditando nas rodoviárias. Nada é tão importante quanto ser bom e andar temporariamente bem-vestido.
Seu amigo espiritual,
Doutor Amoroso, ou Julinha.
♥️
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