BISCOITO PARA PAPAGAIOS

 



Uma árvore de papel-moeda, crescendo enroscada e gigante na direção do sol, cruzando o espaço e cuidando para que as raízes permaneçam imersas até o talo em latas de gasolina.


Estou esculhambada. Jesus Cristo, eu estou aqui.


Assina: o Diabo.

Na delegacia:


A covardia é uma coisa horrível. Eu acho que ela pode ser inculcada na pessoa. Acho, não. Tenho certeza. Eu me sinto como se tivesse nascido um leão forte que meu pai e minha mãe amarraram em uma mesa fria e ficaram enfiando coisas no cu até que piasse feito uma galinha.” (pensou isso)


— E o senhor, não vê às vezes, não? (mas falou isso)

— O quê? – o delegado procura o isqueiro.

— O mundo igual um morcego?

— Tu tá bem doido, hein ô cara!


Papo para psicólogo, vamos mudar… como se diz… o ritmo das coisas…


Levou porrada até confessar. Cortou a cabeça da criançada para que, quando chegassem ao Céu, elas não conseguissem caguetar para Jesus quem tinha feito aquilo. Se o pau de arara fosse permitido. Curava pólio. A camisa do Nirvana, ensanguentada, era menor que ele, e nem sabia que porra era aquela. É roque, doutor! É roque! Roque é o caralho! E mais porrada. Pegou no lixo do filho da patroa, é? E esse tênis é teu?


— Cadê as cabeças?

— Eu não posso… eu… não.

Isso morre comigo!


A fé move montanhas.


— Seja feita a vossa vontade, quer cigarro? — o delegado se aproxima, parecendo até que ficou maior, segurando numa das mãos o isqueiro e na outra um saco plástico.

Quando o batalhão de operações especiais invadiu a delegacia, era como se estivessem entrando em um liquidificador gigante misturado com uma montanha-russa onde os trilhos eram engraxados com sangue, tripas e merda. A metade da cabeça do delegado estava emendada com sua mão dentro de um saco plástico boiando em um líquido amarelo que, mais tarde, a perícia descobriria ser urina. Os outros guardas também estavam estraçalhados; um dos corpos fora encontrado do lado de dentro da cela, enrolado nas grades, no que seria uma desesperada tentativa de fuga. Mas fugindo de quem ou do quê?


Quando a fumaça da granada bang-bang se dissipou, encontraram um satanás sentado no meio da delegacia, olhando as unhas como se tentasse se ver no reflexo dos próprios cascos. O capitão da operação, vestido de preto, capturou a atenção do demônio, que logo observou o distintivo de uma caveira cravada em uma faca, dando-lhe ordem de prisão:


— Larga o garfo! — ordenou, engatilhando o fuzil.


O satanás troca o garfo de mão e fica olhando fixamente o soldado enquanto pisava uma víscera no chão, sem se levantar da cadeira.


— Se não tem pão para amassar, a gente amassa as tripas mesmo! — disse o diabo. E, depois, erguendo um pouquinho a bunda, peidou, seguido de uma gargalhada.


Começam a atirar. Moem o tarado no chumbo. E, misturado ao cadáver e às farpas da cadeira, a camisa rasgada onde agora se lia Ni-na()-r num corpo que não dorme mais. 


Questionado e responsabilizado por ter executado o único que sabia onde estavam as cabeças ocultas das crianças, o comandante do batalhão, olhando para a câmera, diz:


“Às vezes a gente pensa que vê uma coisa, mas é outra. E vocês aí? Já viram o mundo igual a um morcego?”— acharam estranho. Porque depois de dar uma risada, ele peidou durante a coletiva. Emendando outra brenha:


Ué, pelo menos

Smells like teen spirit.


Cheirando a camiseta rasgada.

Como se fosse

o pescoço


da filha menor.




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