CHINESES
Meu coração, barra de sabão vermelho e congelado,
suja mais do que engana, um dia explode ou derrete.
Finalmente. Confessei... Insano, doente mental, incapaz, mameluco, ocioso, caiçara, mundeiro, crápula, errático, pulha, sem vergonha e molenga. Levantem as correntes! Tirem ele das profundezas! Porque o seu poço secou! Carimbaram: DSM-5 Esquizofrenia... Confessei que sim, que eu sou um aleijão do invisível sem tirar nem pôr diante o tribunal social que em países ricos te livram do fardo de ter que pegar no pesado, contribuir com a sociedade, fazer a sua parte. Nesta circunstância, se você não estiver disposto a fazer a sua parte, em troca lhe dão uma camisa de força, na maioria das vezes em forma de sedativos e visitas psiquiátricas obrigatórias junto a possibilidade de dormir o quanto quiseres. Não ter hora para acordar é uma beleza. Mas uma beleza tensa – que por causa da falta de grana – revela os seus fios desencapados dando choque nos bafejos de ar que nos engasga e até mesmo no peido tiro tiro bang bang quando nos encolhemos para dormir em posição de feto grande. O maldito dinheiro. Recuso em acreditar que o dinheiro é a coisa mais importante do mundo, mas o que eu acredito ou não, não muda nada. A minha mãe me telefonou e disse que sonhou comigo. Hoje em dia ela é a única mulher que eu tenho contato. Ela disse que no sonho via umas palavras que piscavam na minha testa, onde se lia: SOLIDÃO/SOLTEIRÃO. Quanto a isso não me incomodo, apesar de me sentir muito entendiado, assim que encontro alguma pessoa eu me arranco e quero logo me trancar. O meu problema maior não é a solidão mas a falta de dinheiro. E isso eu não posso ter. Não posso porque confessei a minha incapacidade de querer fazer como vocês; de aumentar a tristeza cotidiana com estresse e culpa se estrupidando para ganhar a vida. Ganhar o quê? Ganhar de quem? Não há vitória para todo mundo. Eu que não vou viver feito um crioulo antes da lei do ventre livre. Áureo. Capélico. E o louco não sabe ganhar dinheiro e se ganhar não é louco senão teria que voltar a acordar cedo para ir trabalhar. E isso para mim é o que há de mais amedrontador nesta mistura fina que chamam de “a gente faz isso” desde que o mundo é mundo. Essa raça que corre para a morte. Fodam-se os chineses.
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