COITADA

 




Quando abri a porta. Encontrei no corredor uma caixa de fósforos. Eita! Em pânico corri para a cozinha e com uma panela cheia d'água joguei por cima da caixa. Por que besta? Por quê? Ora. Se alguém encontrasse a caixa seca poderia incendiar de maneira incrível e violenta não apenas o meu apartamento mas o prédio inteiro. Fiz o bem. Aliviado. Aliviado, alive bicha. Bicha viva. Veado vivo, tranquei a porta. Quando escutei um barulho e um grito. Um som de fruto maduro encontrando a terra em um dia de verão pequeno. Um poeta de merda chutando a lixeira entulhada de papel. A pedrada no cachorro. Corri outa vez. No furo da porta com o vidrinho no olho do peixe. Ninguém. Confere, porra. Tá, não fica irritado. Então, que surpresa; encontrei a minha vizinha que havia escorregado na água e tinha batido com a cabeça. Trouxe ela para dentro da minha casa. Gorda com pernão. Desmaiada. Arrastei-a até o banheiro, e enquanto arrastava ela ia despertando mas tinha um creme de barba na boca, um café à distância, umas bolhas de quem chupa ovo. Coitada. Deixei ela no banheiro. Ela gemia. O olho, quando abria, bem vermelho, igual peixe pisado pela areia. Não sou bobo. Aproveitei e peguei uma toalha e fui lá secar a água e o pouco de sangue no corredor. Voltei pra casa e fiquei no banheiro observando a vizinha estender a mão pro ar, respirar estranho, peidar e gemer. “Olha, faça qualquer coisa mas não grite! Nunca!” – eu a confortava. Não queria que ela gritasse. Fiquei andando de um lado para o outro até que a vizinha, depois de um, dois dias, parou de mostrar que existia. O que fazer? Corta, ela. Calma. Será? Corta, corta, corta! Então vamos nessa. Cortei ela em pedaços e depois peguei o elevador e, no crepúsculo, com os pintinhos cantando, fui jogar os sacos de lixo na lixeira... Assoviava "Fifi-fiu.. Fi-fi-fiu". Quando alguém me pergunta: “Isso aí é cabelo saindo daí?” Pronto. O fofoqueiro. Estou preso. E aqui, de onde eu te escrevo, 

eu sou o único que não fuma.


Comentários

Postagens mais visitadas